segunda-feira, 4 de julho de 2011

A história do sagrado feminino

Do livro: O oráculo do código do graal - adaptado por Ametista

O código do graal é cantado em versos nas lendas do feminino e é também um modo de vida. Muito tempo atrás, de 7000 a 1400 a.c pelo menos, os povos primitivos que viviam da terra reverenciavam um criador do sexo feminino que, segundo acreditavam, eram responsáveis pela fertilidade e pela abundância na vida deles. Para esses povos, qualquer fêmea era sagrada, pois só as mulheres podiam criar a vida a partir do próprio corpo, à semelhança do criador em que acreditavam.

Esses povos viveram milhares de anos e a criação, a sua economia baseava-se na parceria e na partilha, os seus governadores eram servidores que se encarregavam do bem-estar de todos, a sua filosofia defendia e beneficiava a vida. As mulheres eram tidas em alta conta. Elas eram juízas, sacerdotisas, legisladoras, curandeiras e fazendeiras. Qualquer tipo de trabalho imaginável podia ser executado por um homem e por uma mulher, que trabalhavam lado a lado.

A sexualidade era sagrada. A sexualidade da deusa com o seu consorte, o deus, criavam abundância para as pessoas da terra. A sexualidade era considerada uma dádiva da deusa e um caminho para a divindade. As crianças também eram vistas como dádivas e as concebidas durante épocas sagradas do ano eram particularmente abençoadas e especiais.

Como sabemos disso? Por causa dos resultados de escavações arqueológicas na Grécia. A civilização da Creta minóica (2600-1400 a.c) foi considerada uma das mais avançadas da terra. Essa sociedade era citada como uma cultura em que a parceria realmente existia. A arte, a arquitetura e outros artefatos cretences foram encontrados demonstram suas realizações artísticas e sociais. Particularmente interessante é a total ausência de artefatos que glorifiquem a guerra. Também não existiam cidades fortificadas com muros para conter os invasores. Esse tipo de cidade só surgiu muito posteriormente. E a cidade de Creta tinha o sistema de governo concentrado no matriarcado. Ou seja, na mulher.

Por volta de 4000—3500 a.c, invasores chamados kurgans vieram do norte trazendo armas e um deus guerreiro. Esses kurgans, durante milhares de anos subjugaram a civilização da deusa, transformando uma civilização caracterizada pela parceria em outra de dominadores. O enfoque deixou de ser a arte, a criatividade, a expressão jovial da sexualidade e da fisicalidade e passou a ser a guerra, o medo, as armas. O culto festivo e celebratório, que celebrava a vida, tornando-a um paraíso na terra, passou a ser cheio de dor, sofrimento, morte e a certeza de um paraíso apenas para alguns, depois da morte; danação e tortura eterna para o resto.

Durante certo período, os reis cretences consideravam sagrado o matrimônio com uma mulher – que por ser representante da deusa era também a terra a ser fecundada – e asseguravam a ela o direito de governar. A sexualidade era associada com a deusa e os invasores temiam o poder que ela concedia as mulheres. Os sacerdotes do deus guerreiro viam o ato de amor, de expressão sexual, como algo maléfico e vergonhoso e acabaram por destruir toda experiência saudável do sexo com o epíteto: pecaminoso.

Os sacerdotes dos invasores percebiam que o feminino era forte. Porém, nada podiam fazer contra a magia da criação, o fato de que as mulheres, e somente elas, poderem dar a luz uma nova vida dentro do corpo. Então eles defendiam a idéia de que a contribuição do homem era mais importante do que a das mulheres para a concepção da nova vida.

Quando as mulheres foram estigmatizadas como criaturas malignas, pecaminosas, filhas do demônio, e depois subjugadas e dominadas pelos homens, o que perdemos foi o feminino e tudo o que ele incorpora e significa. A guerra, embora desconhecida no passado, aos poucos foi se tornando uma coisa normal. A criatividade, direito nato de todos, passou a ser exclusividade de um grupo seleto de “artistas”. Embora antes houvesse partilha, compaixão e cuidado uns com os outros e com a comunidade, o tecido da sociedade se esgarçou pela ganância das autoridades para tudo possuir e preservar. A parceira foi substituída pela competição, pela dominação e pela vitoria do macho alfa.
A terra e a fartura eram herança das mulheres com a qual elas sustentavam os filhos. Esse direito passou a ser exclusivamente dos homens.
Quando o feminino se perdeu, o sexo masculino e o feminino se separaram. Em vez de lutarem juntos pela sobrevivência, contribuindo igualmente para expressar a singularidade do masculino e do feminino, e criar a totalidade do Divino, a psique tanto dos homens quanto das mulheres sofreu uma ruptura e ficou dividida. A guerra dos sexos se iniciou, resultando num relacionamento desigual do tipo mestre e escravo, dominador e vitima.

A espiritualidade foi usurpada do individuo – a sua relação direta com a divindade – e passou a ser propriedade de entidades religiosas, que passou a tratá-la como mercadoria.
O código do graal é o que vivíamos nas civilizações antigas da grande deusa, antes que as mulheres fossem usadas como bode expiatório e os valores do feminino desacreditados e descartados. Desde que ele foi expurgado da espiritualidade predominante, ao longo do ultimo milênio, temos sido condenadas a vagar sem rumo pela face da terra, testemunhando a guerra, e a destruição, a poluição, à extinção, a ganância e a corrupção tornando-se norma. Em decorrência da perda e da desvalorização do feminino, nós nos alienamos da nossa fonte verdadeira de espiritualidade e da terra sobre cujo solo sagrado vivemos.

Como seres humanos que contêm tanto o masculino quanto o feminino, só podemos ser íntegros ou criar um mundo mais integro se restaurarmos o feminino perdido. É muito fácil ver o que precisa ser feito. Devolver ao feminino o seu lugar de respeito e sacralidade. Restabelecer o equilíbrio entre o masculino, que representa o mundo exterior, e o feminino, que representa o mundo interior.

E é muito bom sentir que as mulheres estão mais abertas e aceitam mais sua sacralidade. Sim, pois até bem pouco tempo, isso ainda era um tabu para algumas delas. Até mesmo por conta da criação que tiveram e de todos os estigmas carregados ao longo do tempo. Posso afirmar que a mensruação está “ajudando” e muito nessa conscientização do sagrado. Hoje muitas mulheres vêem essa fase na vida delas como uma comunhão com o divino e sua confirmação. Não como algo impuro e que deixa a mulher inapta ou proibida de muitas coisas.

Há sociedades que ainda vê o ciclo menstrual como uma grande punição a mulher. E algumas religiões não deixam que a mulher adentre os recintos no período em que estão no ciclo.

Bençãos...

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